Seu Jorge trabalhava varando a madrugada, enfrentando a correria noturna carioca. Durante a semana era difícil de vê-lo, principalmente, por que armava sua lanchonete-van aos finais de semana. O movimento era intenso e formado basicamente de taxistas e fanfarrões. Sob a luz da Lua, na praça próxima à Igreja, Jorge mantinha o bom humor do brasileiro típico, com dois filhos e uma esposa para sustentar. Seu orgulho era ter onde trabalhar...
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Sempre quando eu voltava do trabalho, fazia um pitstop na van do Jorge. No meio do caminho havia sanduiches, empadas, hotdogs, xtudo, sucos refrigerantes e bolo (tudo preparado por ele e sua fiel esposa). Naquela região desértica, todos se esfomeavam dos quitutes de Jorge Bigode. Lembro-me de ocasiões, quando lanchei acompanhado de policiais militares, guardas municipais ou apenas bêbados sentados ali, no banquinho de plástico. Não havia quem discordasse, o bigode salvava a galera - Os taxistas, inclusive, o apelidavam de mamãe Jorge. Tudo muito engraçado!
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Até um dia:
Na época o prefeito Paes recém tomava posse da cidade e, suas políticas públicas ainda nem eram conhecidas como choque de ordem (apesar de causarem grande estardalhaço). Nessa noite eu voltava de ônibus da Lapa, cortando Botafogo rumo ao Jardim Botânico, onde saltei na altura do viaduto. Lembro-me do jornal informar sobre uma ação da secretaria de ordem pública contra os vendedores ambulantes no centro do Rio - Naquele dia o assunto girou em torno da barata encontrada no óleo usado por um dos barraqueiros. Chegando na van do Jorge, fiz meu pedido e aguardei (a fim de evitar o assunto polêmico ou indigesto). Não houve alternativa, o próximo taxista foi logo exclamando do caos na cidade. Jorge assustado começou a lamentar, irritado e apressado com os pedidos que o esperavam, ou de tantas outras barrigas que já havia alimentado.
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-Em vão, por que desde aquele dia, eu nunca mais vira sua van estacionada ali perto. Fico imaginando o que acontecera com o chefe de família, pessoa correta e acima de tudo, trabalhador. Como será que Jorge agora se sustenta? Ou melhor: Quanto tempo leva à prefeitura regulamentar a situação desses trabalhadores? Estes dependem disso...
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